A bronquiolite, é uma doença respiratória aguda que afeta predominantemente bebés com menos de 24 meses de vida, mais comum durante os meses de outono e inverno.

É desencadeada por uma resposta complexa à infeção viral causada, principalmente, pelo vírus sincicial respiratório (VSR).

Este vírus pertence à família Paramyxoviridae , do género Pneumovirus, demonstrando uma afinidade especial pelas células epiteliais das vias respiratórias.


Características do vírus sincicial respiratório (VSR):

  • Estrutura Viral: O VSR possui uma estrutura de envelope lipídico, com um genoma de RNA simples de cadeia negativa. Essa configuração genética contribui para a rápida replicação viral e a capacidade de mutação e, consequentemente, de infeção.
  • Modos de Transmissão: A transmissão do VSR ocorre principalmente por meio de gotículas respiratórias (saliva, secreções nasais) , contato direto e indireto com superfícies contaminadas. A facilidade com que o VSR se propaga em ambientes fechados, como creches e unidades de saúde, intensifica a sua disseminação.
  • Suscetibilidade Infantil: Bebés e crianças pequenas são particularmente suscetíveis à infeção pelo VSR devido à imaturidade do sistema imunológico e à falta de exposição prévia ao vírus. A primeira exposição geralmente resulta numa resposta mais pronunciada e gravidade de sintomas

Como o VSR afeta o nosso corpo?

O VSR inicia o seu ciclo de infeção ao entrar nas células epiteliais das vias aéreas superiores, integrando as células do trato respiratório, especialmente nos bronquíolos, por meio da interação entre proteínas virais e recetores celulares específicos.

Ocorre a fusão do genoma do vírus com a membrana celular. Esse evento desencadeia a libertação do genoma viral no citoplasma, iniciando a replicação.

Esse processo desencadeia uma resposta inflamatória exacerbada.

Impacto na Imunidade do bebé

O VSR possui mecanismos evasivos que comprometem a eficácia da imunidade adaptativa.

A resposta imunológica do bebé desempenha um papel crítico na tentativa de combater a infeção por VSR.

Devido à imaturidade do sistema imunológico infantil, a eficácia dessa resposta pode ser limitada.

As células imunes, como os linfócitos T e B, ainda não atingiram a maturidade total, resultando em uma resposta adaptativa menos eficiente ao vírus.

A presença insuficiente de anticorpos maternos transferidos passivamente pode aumentar a vulnerabilidade do bebé à infeção viral (a amamentação desde a primeira hora de vida, vai ajudar exponencialmente o bebé a ganhar imunidade passiva a este tipo de vírus).

A imunoglobulina G (IgG) transferida durante a gestação e a imunoglobulina A (IgA) no leite materno desempenham papéis cruciais na proteção inicial, mas sua quantidade pode variar, influenciando a capacidade do bebê de combater a infeção.

A resposta imunológica inadequada contribui para a reinfeção recorrente, especialmente nos primeiros anos de vida.

Inflamação e Estreitamento das Vias Aéreas

À medida que o VSR invade as células epiteliais das vias aéreas, desencadeia uma resposta inflamatória localizada.


Células do sistema imunológico, como os macrófagos e os linfócitos, são recrutadas para o local da infeção, liberando citocinas inflamatórias. Essas moléculas sinalizadoras desencadeiam uma cascata de eventos que amplificam a resposta inflamatória.


A inflamação leva à produção excessiva de muco pelas células epiteliais, contribuindo para a obstrução das vias aéreas.


Simultaneamente, pode ocorrer hiperreatividade brônquica, levando ao estreitamento dos bronquíolos. Esse estreitamento, combinado com a acumulação de muco, resulta na dificuldade respiratória observada na bronquiolite.


Ou seja, a infeção implica a produção de citocinas pró-inflamatórias, levando à inflamação das vias aéreas e à produção excessiva de muco. O estreitamento das vias aéreas compromete a capacidade do bebé respirar normalmente.

Existem outros vírus associados à Bronquiolite?

Além do VSR, outros vírus respiratórios têm sido associados à bronquiolite nos bebés, ampliando a complexidade do quadro clínico.

Esses vírus incluem:

  • Vírus da Influenza (A e B): Apesar de ser mais comumente associado à gripe sazonal, o vírus da influenza pode causar bronquiolite, especialmente em bebés com sistema imunológico comprometido.
  • Rinovírus: Associado a infeções do trato respiratório superior, o rinovírus pode desencadear bronquiolite, muitas vezes apresentando sintomas semelhantes aos de uma constipação/gripe comum.
  • Adenovírus: Este vírus respiratório pode causar uma variedade de sintomas respiratórios, incluindo bronquiolite, e é mais comum em crianças mais velhas.
  • Metapneumovírus Humano (hMPV): Similar ao VSR em termos de sintomas e propagação, o hMPV é reconhecido como um agente causador significativo de bronquiolite, especialmente em crianças pequenas.

Assim, conseguimos compreender que o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), tem características genéticas próprias que o distinguem de outros vírus comuns (Como o Influenza e o Adenovirus).

São essas características genéticas que o tornam tão perigoso para os bebés, com o desenvolvimento de quadros respiratórios de grande gravidade e, muitas vezes, até necessidade de recurso a internamento hospitalar.


A bronquiolite costuma apresentar uma predominância sazonal, associada ao tempo frio e, consequentemente, maior permanência em espaços fechados.

É importante lavar o nariz do bebé na bronquiolite?

A bronquiolite começa, frequentemente, como uma simples constipação, com sintomas como corrimento nasal, espirros e febre baixa.


Com o tempo, o vírus pode espalhar-se para as vias aéreas inferiores, afetando os bronquíolos, que são as pequenas vias respiratórias nos pulmões.

O VSR infecta as células das vias aéreas, causando inflamação e irritação. Isso leva ao estreitamento dos bronquíolos, dificultando a passagem do ar.


Como resposta à infeção, as células das vias aéreas podem produzir mais muco do que o normal. A acumulação de muco contribui para a obstrução das vias aéreas e dificulta a respiração.

A melhor maneira de prevenir que o vírus se propague da mucosa nasal para o pulmão, é através da lavagem nasal regular.

Assim que o seu bebé começar a apresentar sinais de corrimento nasal ou de obstrução nasal, deve aumentar a frequência da lavagem nasal.

A lavagem nasal deve ser efetuada com recurso a material seguro e adequado à idade do recém-nascido.

Atualmente, para bebés até aos 24 meses de idade, recomenda-se a utilização de seringa com adaptador nasal. A utilização de um adaptador nasal irá proteger a ponta da seringa, garantindo que não magoa o bebé, ao mesmo tempo que veda a narina durante a introdução do soro fisiológico, impedindo o seu retrocesso.

A lavagem nasal ajuda a remover impurezas, alergénios, virús e bactérias da mucosa nasal.

É importante salientar que, quanto mais ranhinho o seu bebé apresentar, mais vezes deve efetuar a lavagem nasal.

No Inverno, é importante que o Soro fisiológico seja ligeiramente aquecido, ficando morno, de modo a tornar a lavagem nasal mais eficaz e confortável para o seu bebé.

Estratégias de prevenção da bronquiolite


A implementação de estratégias de prevenção, podem desempenhar um papel crucial na prevenção desta patologia.


As estratégias a adotar incluem:

  • Vacinação contra o VSR
  • Práticas de higiene ambiental adequadas
  • Lavagem regular das mãos
  • Etiqueta respiratória
  • Menor permanência em locais fechados
  • Menos permanência em locais sobrepopulados
  • Evitar fumos (tabaco, lareira)
  • Higiene diária da mucosa nasal, através da lavagem nasal nasal.

Para terminar, é importante salientar que a bronquiolite nos bebés não é apenas uma patologia respiratória comum.

É também uma preocupação significativa no impacto que tem na saúde do bebé, na sua qualidade de vida e nos recursos económicos associados ao tratamento desta doença.

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