A Bronquiolite é uma infeção das vias aéreas inferiores, normalmente causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR), que pode adquirir uma gravidade exponencial na saúde respiratória do bebé.


A bronquiolite é mais comum durante os meses de outono e inverno. Com o frio, existe uma maior tendência para o bebé permanecer em locais fechados e com mais pessoas por mais tempo, o que favorece a ocorrência de infeções respiratórias, como a bronquiolite.


As vias respiratórias no bebé são muito diferentes das do adulto, refletindo as particularidades do desenvolvimento anatómico e funcional durante os primeiros anos de vida.


Ao explorar a anatomia específica das vias respiratórias em bebés, conseguimos compreender melhor alguns aspetos fundamentais que influenciam diretamente a suscetibilidade do recém nascido e bebé à ocorrência de bronquiolites.

Diferenças entre a anatomia respiratória do bebé relativamente ao adulto


Existem grandes diferenças anatómicas entre o aparelho respiratório dos bebés e o aparelho respiratório de um adulto.

É de extrema importância conhecer com detalhe estas diferenças, para compreender o aumento de suscetibilidade que os bebés apresentam, na ocorrência de sintomas respiratórios graves, quando adquirem uma infeção respiratória.

Narinas e Cavidade Nasal


As narinas dos bebés são consideravelmente menores em comparação com as dos adultos, limitando a quantidade de ar que pode entrar durante a respiração.


Além disso, os bebés, especialmente os recém-nascidos, tendem a respirar predominantemente pelo nariz devido à posição da epiglote e à necessidade de aquecer e humedecer o ar inspirado.


Até aos 6 meses de idade, a respiração costuma ser, exclusivamente, pelo nariz. Logo, um nariz obstruído e congestionado com secreções nasais, irá dificultar todas as atividades diárias do bebé, como a alimentação e o sono.

Faringe, Laringe e Traqueia


A laringe e a faringe nos bebés estão posicionadas mais anteriormente, contribuindo para uma maior propensão à obstrução das vias aéreas durante episódios de inflamação, relativamente aos adultos.

A traqueia dos bebés é mais flexível e menos rígida que a dos adultos, o que pode afetar a capacidade de manter as vias aéreas abertas.

Brônquios

Os brônquios são mais estreitos nos bebés, tornando-os mais suscetíveis à obstrução por acumulação de muco/secreções durante infeções respiratórias.

Bronquíolos e Alvéolos pulmonares

Os bronquíolos e alvéolos pulmonares nos bebés ainda apresentam uma imaturidade estrutural, ou seja, estão em fase de desenvolvimento, tornando-os mais vulneráveis a danos e inflamação, como os observados na bronquiolite.

Pulmões

Os pulmões dos bebés têm uma capacidade pulmonar significativamente menor em relação ao tamanho corporal, o que pode amplificar os efeitos das obstruções nas vias aéreas.

Desenvolvimento Ósseo e Muscular

Os bebés apresentam uma estrutura torácica imatura, ou seja, a sua estrutura torácica é menos estável e rígida, devido ao desenvolvimento incompleto dos ossos e músculos, dificultando a capacidade de gerar pressão durante a respiração, algo que é necessário quando existe um esforço respiratório maior, por exemplo, durante a presença de uma infeção respiratória.

Os primeiros 24 meses de vida são cruciais

Os bebés, particularmente até aos primeiros 24 meses de vida, encontram-se extremamente suscetíveis, não só a serem contagiados pelo VSR (principal agente responsável pelo aparecimento de bronquiolite), como também a desenvolverem sintomas graves, como tosse persistente, febre alta e dificuldade respiratória (dispneia).

Devido ao sistema imunológico ser bastante imaturo, os bebés possuem uma capacidade limitada para combater de forma eficaz uma infeção viral, o que, consequentemente, irá facilitar o desenvolvimento e progressão da gravidade clínica da bronquiolite.


A exposição inicial a fatores ambientais, como o ambiente familiar com muitas pessoas e a presença de irmãos mais velhos ou que frequentem creches/escolas, desempenha um papel significativo, pois crianças que permanecem muito tempo em ambientes fechados ou sobrepopulacionados, terão uma maior tendência a desenvolver infeções respiratórias, como a bronquiolite.

Como a bronquiolite afeta o bem-estar do meu bebé

A bronquiolite pode afetar negativamente e de forma significativa o bem estar geral do bebé.

A dificuldade respiratória, associada a sintomas como tosse persistente e produção excessiva de muco, pode resultar em irritabilidade, fadiga e recusa alimentar.

Em casos mais graves, a bronquiolite pode levar a complicações como pneumonia e necessitar de internamento hospitalar, com recurso a oxigenoterapia.


A bronquiolite, inicialmente, pode passar despercebida, pois começa, frequentemente, como uma “simples constipação”, com sintomas como corrimento nasal, espirros e febre baixa.

Com o tempo, o vírus progride da mucosa nasal, para as vias aéreas inferiores, afetando os bronquíolos, que são as pequenas vias respiratórias nos pulmões, causando inflamação e irritação. Isso leva ao estreitamento dos bronquíolos, dificultando a passagem do ar.


Além da hiperreatividade brônquica, ou seja, do estreitamento dos bronquíolos, a bronquiolite também induz as células das vias aéreas dos bebés a podem produzir mais muco do que o normal. A acumulação de secreções nos pulmões irá contribuir para a obstrução das vias aéreas e dificulta ainda mais a respiração do bebé.

Sinais e Sintomas da Bronquiolite nos bebés

Identificar a bronquiolite na fase inicial pode ser bastante complicado, pois os sintomas iniciais muitas vezes assemelham-se aos de uma “conspitação”.

A falta de conhecimentos por parte dos pais sobre os sinais distintivos da bronquiolite, pode levar a que atrasem a ida a um serviço de urgência, o que, por sua vez, leva a um diagnóstico tardio, atrasando intervenções cruciais e aumentando o risco de complicações respiratórias no bebé.

É fundamental saber identificar precocemente os sinais precoces de que o seu filho pode estar a desenvolver uma bronquiolite, como:

  • Dificuldade respiratória (dispneia)- Os bebés podem apresentar respiração rápida e superficial, além de retração dos músculos ao redor das costelas e do pescoço durante a respiração (o que indica que estão a utilizar os chamados “músculos acessórios da respiração“, que são ativados quando existe um esforço respiratório significativo).
  • Chiado no Peito (Sibilos, ou os chamados “gatinhos”)- O estreitamento das vias aéreas pode causar chiado no peito durante a respiração, conhecido como sibilância. Ou seja, pode ocorrer a presença de um som, parecido com um pequeno assobio, durante a fase de expiração do bebé.
  • Tosse– Tosse persistente, bastante irritativa, muitas vezes com produção de muco.
  • Febre– Os bebés com bronquiolite podem ter febre alta. No entanto, este não é um sintoma obrigatório para efetuar o diagnóstico de bronquiolite, ou seja, podem existir bebés que estejam infetados com o VSR e não apresentem um quadro febril.
  • Irritabilidade e Fadiga– A doença pode deixar os bebés irritados, cansados e com dificuldade para se alimentar e para dormir (é importante relembrar, que os bebés, até aos 6 meses de vida, respiram exclusivamente pelo nariz, pelo que um nariz obstruído aliado a umas vias respiratórias contraídas pela presença da bronquiolite, pode tornar-se extremamente grave)
  • Cor azul (Cianose)- Em casos mais graves, a falta de oxigénio pode levar à cianose, uma coloração azulada dos lábios e da pele, especialmente ao redor da boca e nas extremidades, como os dedos das mãos, pés e lóbulo da orelha.

Como pode ajudar o seu bebé na prevenção e/ou tratamento da bronquiolite

Lavagem nasal como aliada na prevenção de infeções respiratórias


A melhor maneira de prevenir infeções respiratórias, como a bronquiolite, é garantindo que a sua mucosa nasal (porta de entrada do ar nos bebés, que tem como função filtrar e humidificar o ar que o bebé respira), se mantem sempre limpa e livre de alergénios, vírus e bacterias.


E como pode conseguir a limpeza da mucosa nasal? Através da lavagem nasal com soro fisiológico estéril.

Nos recém-nascidos e bebés até aos 24 meses é aconselhado efetuar a lavagem nasal com recurso a seringa e a adaptador nasal, que seja maleável e não magoe o bebé.


A lavagem nasal, também conhecida como irrigação nasal ou higiene nasal, é o método mais prático, simples, seguro e eficaz de ajudar o seu bebé, na prevenção de infeções respiratórias.


Quanto mais secreções nasais o bebé apresentar, maior deverá ser a frequência da lavagem nasal, de forma a eliminar as hipóteses de o vírus se poder propagar para as vias aéreas inferiores do bebé, ou seja, para o pulmão, e provocar uma bronquiolite.

Medidas que podem ser adotadas na prevenção de bronquiolites


Garantir que o bebé se encontra num lugar limpo, num ambiente que é arejado com frequência, com poucas pessoas/crianças, irá diminuir a probabilidade de infeção.


As infeções respiratórias tornam-se mais frequentes no inverno, precisamente por isso, por, devido ao frio, os bebés permanecerem mais tempo em ambientes fechados, pouco ou nada arejados, com muitas crianças (que tossem e espirram para o ar e para as suas mãos e que de seguida tocam e mexem nos mesmos locais e brinquedos que as outras crianças), sobrepopulacionados (como os centros comerciais).


É fundamental garantir que o ambiente onde o bebé se encontra se mantém livre de fumos (como lareira e tabaco, por exemplo).


A limpeza e desinfeção regulares das superficies (não precisa ser todos os dias, mas 2/3 vezes por semana) também irão reduzir a probabiblidade deste e outros tipos de vírus se manterem nas superfícies onde o bebé toca.

É importante relembrar que tudo o que o bebé toca pode estar infetado. Se o bebé toca numa superfície ou brinquedo contaminada com o vírus e, de seguida, levar a mão ao nariz ou à boca (o que normalmente acontece com regularidade), dificilmente o vírus não se irá alojar na mucosa nasal do bebé.

A lavagem regular das mãos, é uma aliada importante na prevenção, não só de infeções respiratórias, mas de todas as outras doenças que afetam as crianças.

Etiqueta respiratória por parte das pessoas que rodeiam o bebé (tossir e espirrar para o antebraço e não para as mãos ou para o ar, como normalmente acontece)

Prevenir que o bebé esteja em contacto com outras crianças/pessoas que apresentem sinais de patologia respiratória (tosse, espirros, corrimento nasal)

Mas principalmente e, acima de tudo, garantir que a mucosa nasal do bebé se mantem limpa e livre de vírus, o que só é possível se efetuar a lavagem nasal de forma correta e regularmente.

É importante salientar que, esta imaturidade do sistema imunológico e predisposição à ocorrência de infeções respiratórias no bebe não dura para sempre.


Á medida que o bebé cresce, o seu sistema imunitário vai ganhando maturidade e ocorrem mudanças anatómicas nas vias respiratórias, o que explica porque a partir dos 2/3 anos de idade, o número de infeções respiratórias, assim como a gravidade das mesmas, tende a diminuir.


Compreender a evolução da bronquiolite, sinais e sintomas de gravidade, garante que os pais implementem intervenções mais direcionadas (como a lavagem nasal diária, lavagem das mãos regular, etiqueta respiratória e higiene ambiental) que permitam a redução da severidade, gravidade e da frequência desta doença.

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